O querubimo é uma desordem autossômica dominante, caracterizada pela expansão simétrica da maxila e mandíbula. Trata-se de uma doença causada por mutações localizadas principalmente no exon 9, do gene SH3BP2. A alteração genética é encontrada em 90% dos casos, causando formação exagerada de células gigantes, multinucleadas, semelhantes aos osteoclastos, que levam a reabsorção óssea na área afetada.

 

Características clínicas

A doença se manifesta comumente em crianças, sendo caracterizada pela expansão óssea, especialmente da maxila. Isso causa a exposição da esclera e resulta em um aspecto semelhante aos “anjos querubínicos” das pinturas renascentistas. A história familial é identificada em quase 70% dos casos. Outras alterações que podem ser encontradas associadas à doença são: distúrbios visuais; dificuldades tanto mastigatórias quanto de fala;  reabsorção;  deslocamento e agenesia de dentes.

Vale ressaltar que a expressão fenotípica da doença pode ser bastante variável, podendo ocorrer desde lesões únicas, sem sinal de envolvimento dentário, até lesões múltiplas, com envolvimento amplo dos ossos maxilares. O acometimento condilar é incomum. A presença da mutação no gene SH3BP2 não guarda relação com o grau de evolução da doença, embora seja observada frequentemente nos casos familiais. Curiosamente, alguns indivíduos, com a mutação, não desenvolvem manifestações clínicas da doença.

 

Características radiológicas

Inicialmente, as lesões do querubismo são radiolúcidas, com limites definidos e se apresentam como imagens multiloculares (Figura 1). Com a evolução, elas tornam-se gradativamente radiopacas.

 

Imagem radiográfica do querubismo

Figura 1- Imagem radiográfica de querubismo mostrando múltiplas lesões radiolúcidas, multiloculares e com limites bem definidos (Gentilmente cedida pelo Dr. Júlio Tanos de Lacerda).

 

Características histopatológicas

O quadro histopatológico do querubismo mostra numerosas células mononucleares, ovoides ou fusiformes, entremeadas por células gigantes, semelhantes aos osteoclastos, além de áreas hemorrágicas (Figura 2). Seu aspecto microscópico é semelhante ao encontrado na lesão central de células gigantes, tumor marrom do hiperparatireoidismo e nas lesões de células gigantes associadas às síndromes: Noonan, Jaffe Campanacci e Neurofibromatose múltipla. Em quase 1/3 das lesões, hialinização perivascular é encontrada  (Figura 3). Quando isso ocorre, deve-se suspeitar desse diagnóstico.

 

Imagem histopatológica de querubismo

Figura 2- O querubismo apresenta no seu quadro histopatológico numerosas células mononucleares, ovoides ou fusifomes, entremeadas por células gigantes e áreas hemorrágicas. 

 

Hialinização perivascular no querubismo

Figura 3- A presença de hialinização perivascular é bastante sugestiva de querubismo (seta).

 

Tratamento

Em razão das alterações dentárias, como agenesia, procedimentos de implante dentário podem ser necessários. Em geral, as lesões regridem e se estabilizam depois da puberdade. Nesses casos, a cirurgia pode ser necessária, mas, apenas, por razões estéticas e/ou funcionais. Cabe mencionar que alguns pacientes podem mostrar expansão ativa, após a segunda ou terceira década de vida, o que pode exigir ressecção ou curetagem. Após a cirurgia, existem relatos que mostram tanto o crescimento agressivo quanto quiescência total. Portanto, mais estudos longitudinais multi-institucionais são necessários nessa área.

 

Leitura Complementar

1- Chrcanovic BR, Guimarães LM, Gomes CC, Gomez RS. Cherubism: a systematic literature review of clinical and molecular aspects. Int J Oral Maxillofac Surg 2021;50:43-53.

2- Flanagan AM, Speight PM. Giant cell lesions of the craniofacial bones. Head Neck Pathol 2014;8:445-453.

3- Kueper J, Tsimbal C, Olsen BR, Kaban L, Liao E. SH3BP2-related fibro-osseus disorders of the maxilla and mandible. A systematic review. Int J Oral Maxillofac Surg 2022 (in press)

4- Prescott T, Redfors M, Rustad CF, Eiklíd KL, Geirdal AO, Storhaug K, et al. Characterization of a Norwegian cherubism cohort: molecular genetic findings, oral manifestations and quality of life. Eur J Med Genet 2013;56:131-137.

5- Redfors M, Jensen JL, Storhaug K, Prescott T, Larheim TA. Cherubism: panoramic and CT features in adults. Dentomaxillofac Radiol 2013;42:20130034.

6- Ueki Y, Tiziani V, Santanna C, Fukai N, Maulik C, Garfinkle J, et al. (2001). Mutations in the gene encoding c-Abl-binding protein SH3BP2 cause cherubism. Nat Genet 2001;28:125- 126.

 

 

Consultório

blank

Conheça nossos cursos

blank