Nevus melanocítico

Nevus melanocítico é uma lesão pigmentada constituída por células névicas que são derivadas da crista neural. Essas células migram para o epitélio e, por mecanismos desconhecidos, acabam se acumulando no tecido conjuntivo. Os nevos melanocíticos tem como origem os melanócitos que têm expansão clonal, dividem-se e sofrem involução. As lesões aparecem após o nascimento ou durante a infância, mas podem ser encontradas em qualquer idade. Ocorrem principalmente no palato e se apresentam como máculas ou pápulas discretamente elevadas, ovoides e de coloração escura (Figura 1). O nevus melanocístico, incluindo o nevus azul, ocorre com maior frequência em jovens.

 

Figura 1- Aspecto clínico do nevus melanocítico em uma criança. Observar mácula de coloração escura não uniforme.

 

Características histopatológicas

Microscopicamente, o nevus melanocítico é caracterizado pela formação de ninhos de células névicas que se acumulam na interface com o epitélio ou mais profundamente no tecido conjuntivo, contendo pigmento melânico, esparsamente distribuído pelo citoplasma. As células névicas mais superficiais mostram morfologia epitelioide, com limites bem definidos, citoplasma eosinofílico ou anfofilico (afinidade para os dois corantes) contendo grânulos de melanina, núcleos ovoides, cromatina dispersa e nucléolos pouco destacados. Na porção mais profunda essas células assumem uma morfologia mais semelhante a linfócitos, com pouco citoplasma e núcleos pequenos. Na faixa mais profunda ainda, as células névicas se apresentam mais fusiformes. Quando esses ninhos ocorrem na interface com o epitélio, eles são chamados de nevus juncional; quando limitados à lâmina própria, recebem a denominação de nevus intramucoso (Figura 2). Havendo os dois elementos, ele passa a ser chamado de nevus composto. Quando as células névicas se dispõem mais profundamente no conjuntivo e assumem uma morfologia fusiforme, a lesão passa a ser denominada de nevus azul (Figuras 3 e 4). Essa coloração azul deve-se a localização mais profunda do pigmento melânico no conjuntivo, o que facilita que o comprimento de onda azul seja refletido (efeito Tyndall –veja o post abaixo). As cores com comprimentos de onda maior, como o vermelho e o amarelo, tendem a ser reabsorvidas nas camadas superficiais; assim a cor azul, por apresentar maior comprimento de onda, é refletida mais facilmente para os olhos do observadora. A maturação das células névicas, com o avançar da idade, segue uma mudança morfológica de ovoide para fusiforme, com distribuição na porção mais profunda do conjuntivo. Eventualmente, podemos observar presença de displasia nas células névicas, passando a ser denominado de nevus displásico. Os nevus displásicos são clinicamente maiores e exibem bordas mais irregulares.

 

Figura 2- Quadro microscópico do nevus intramucoso, exibindo células névicas ovoides dispostas em ninhos ou tecas.

 

Legenda 3 – Quadro clínico do nevus azul na mucosa do vestíbulo (Imagem cedida gentilmente pelo Prof. Helder Pontes – UFPA).

 

Figura 4- Imagem microscópica do nevus azul, mostrando células névicas fusiformes dispostas na lâmina própria mais profunda.

 

Tratamento

Embora o nevus raramente sofra transformação maligna, a impossibilidade de se fazer o diagnóstico diferencial clínico com o melanoma, justifica a realização da biópsia. Cabe ressaltar que existem casos, também raros, mas que mostram ocorrência simultânea de melanoma oral e nevus melanocítico.

 

Leitura complementar:

1- Ma Y, Xia R, Ma X, Judson-Torres RL, Zeng H. Mucosal Melanoma: Pathological Evolution, Pathway Dependency and Tartet Therapy. Front Oncol 2021;11:702287.

2- Natarajan E. Black and brown orofacial mucocutaneous neoplasms. Head and Neck Pathol 2019; 13:56-70.

3- Tavares TS, Costa APS, Aguiar MC, et al. Differential diagnoses of solitary and multiple pigmented lesions of the oral mucosa: Evaluation of 905 specimens submitted to histopathological examination. Head Neck 2021 (in press)