Cisto Glóbulo-maxilar

A literatura odontológica aponta que os primeiros casos de Cisto Glóbulo-Maxilar foram descritos, em 1937, por Thoma, que apresentou considerações a respeito de um cisto, com aspecto radiográfico de “pera invertida”. Acredita-se que tal lesão seria resultante de remanescentes epiteliais aprisionados durante a fusão dos processos maxilares com a porção globular do processo nasomedial. Ferenczy (1958), após ampla revisão do assunto, questionou a relação proposta do cisto glóbulo-maxilar com a fusão dos processos embrionários. Para o autor, os achados embriológicos e radiográficos contrariavam essa possibilidade, pois a localização da lesão na junção da pré-maxila com a maxila (entre o incisivo lateral e o canino) não coincidia com o local de ocorrência da fusão dos processos (região do incisivo lateral superior). Ainda segundo o autor, caso o cisto glóbulo-maxilar viesse realmente do encontro dos processos maxilar com o  nasomedial, a lesão não ficaria restrita à região entre o incisivo lateral e caninos superiores, sendo encontrada também na região do incisivo lateral superior.
Estudos embriológicos posteriores refutaram ainda mais a teoria da origem fissural do cisto glóbulo-maxilar, pois demonstram que os processos faciais não representam estruturas isoladas, não ocorrendo fusão durante o período embrionário. De fato, o que ocorre é um nivelamento desses processos, seguido por preenchimento da fenda existente com tecido mesenquimal, sendo pouco provável que este nivelamento leve ao aprisionamento de epitélio na região entre os processos maxilares e nasoalveolar.
Vários autores demonstraram que outras lesões (odontogênicas ou não), quando ocorrem entre o incisivo lateral e o canino, apresentam radiograficamente a imagem de “pera invertida” (Christ, 1970; Zegarelli & Zegarelli, 1973; Taicher, 1977; Khan, 1977; Wysocki, 1991; Vedtofe & Holmstrup, 1989). Dessa maneira, este achado radiográfico não é específico de lesão distinta, sendo compatível com o diagnóstico de outros processos patológicos. Assim, o uso da terminologia “cisto glóbulo-maxilar” para definir o diagnóstico de uma lesão deve ser desencorajado.

Cisto Mandibular Mediano

O cisto mandibular mediano foi relatado por Olech (1957) e Meyer (1957). Tal como o cisto glóbulo-maxilar na região da pré-maxila, inicialmente, acreditava-se que esta lesão tivesse origem nos remanescentes epiteliais aprisionados durante a fusão dos processos mandibulares. No entanto, como esses processos não se fundem, sendo apenas submetidos a um nivelamento do sulco que os separa, não há possibilidade de retenção de epitélio, e, por conseguinte, não há formação de cisto fissural nesta região.
Ao revisar minuciosamente as publicações sobre o assunto, Gardner (1988) concluiu que o cisto mandibular mediano não é uma entidade clínico-patológica distinta, pois diversos casos, inicialmente, publicados com esse diagnóstico foram revisados, passando a evidenciar dados clínicos, radiográficos ou histopatológicos compatíveis com outros diagnósticos.

Leitura Complementar:

1- Christ TF. The globulomaxillary cyst: An embryological misconception. Oral Surg 1970;30:515-526.

2- Ferenczy K. The relationship of globulomaxillary cysts to the fusion of embryonal processes and to cleft palates. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1958;11:1388-1393.

3- Gardner DG. An evaluation of reported cases of median mandibular cysts. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1988;65:208-213.

4- Khan MY, Kwee H, Schneider LC, Saber I. Adenomatoid odontogenic tumor resembling a globulomaxillary cyst: light and eléctron microscopic studies. J Oral Surg 1977;35:739-742.

5- Meyer I. Developmental median cyst of the mandible; report of a case. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1957;10:75-80.

6- Olech E. Median mandibular cysts; a clinical and histologic report of two cases. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1957;10:69-74.

7- Taicher S & Aza B. Lesions resembling globulomaxillary cysts. Oral Surg 1977;44:25-29.

8- Thoma KH.  Facial  Cleft  and  Fissural  Cyst. Am J Orthodontics  and  Oral  Surg 1937;23:83.

9- Vedtofte P, Homstrup P. Inflammatory paradental cysts in the globulomaxillary region. J Oral Pathol 1989;18:125-127.

10- Zegarelli DF & Zegarelli EV. Radiolucent lesions in the globulomaxillary region. J Oral Surg 1973;31:767-771.

11- Wysocki GP. The differential diagnosis  of globulomaxillary radiolucencies. Oral Surg 1981;51:281-286.

 

 

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