Embora a hiperplasia epitelial multifocal, também conhecida como doença de Heck, tenha sido inicialmente reportada em populações indígenas latino-americanas, ela pode ser encontrada em diversas regiões do mundo. A etiologia da doença está relacionada à infecção pelos vírus HPV 13 e 32. Esses dois tipos de HPV são considerados de baixo risco oncogênico e apresentam forte tropismo pela mucosa oral, sendo raramente identificados na mucosa genital. Além disso, fatores genéticos de suscetibilidade à doença também são considerados, o que explica seu caráter endêmico e a prevalência em populações indígenas.
Características clínicas
A hiperplasia epitelial multifocal é caracterizada pela presença de múltiplas pápulas ou nódulos de tamanho variável, acometendo principalmente crianças. As lesões papulares ou nodulares localizam-se principalmente na mucosa labial e jugal, apresentando coloração semelhante à da mucosa normal (Figuras 1 e 2). Quando a mucosa é estirada, essas lesões podem desaparecer temporariamente. Já as lesões presentes na gengiva apresentam um padrão clínico mais papilomatoso, com coloração esbranquiçada e superfície irregular e rugosa.
Figuras 1 e 2 – Presença de múltiplas pápulas localizadas na mucosa lingual e labial.
Características histopatológicas
Ao exame microscópico, observa-se a presença de lesões exofíticas, com arquitetura nodular ou papilar, epitélio acantótico e cristas epiteliais largas, alongadas e confluentes. Em alguns casos, são encontradas figuras mitosoides e coilocitose. As figuras mitosoides, embora representem células com cromatina degenerada, assemelham-se a figuras de mitose, o que justifica sua denominação.
O diagnóstico da hiperplasia epitelial multifocal baseia-se na correlação de dados demográficos, clínicos e microscópicos.
Figura 3 – Imagem microscópica mostrando lesão papular revestida por epitélio acantótico, contendo cristas epiteliais largas, alongadas e confluentes.
Figura 4 – Nesta imagem microscópica, é possível identificar uma figura mitosoide (seta).
Tratamento
Embora a regressão espontânea das lesões seja frequentemente relatada, a conduta mais adotada é a remoção cirúrgica, com o objetivo de diagnóstico e maior conforto para o paciente. Em casos de lesões múltiplas, o tratamento medicamentoso com aplicação tópica de imiquimode tem sido utilizado por alguns profissionais, embora os resultados sejam variados. Apesar da possibilidade de recorrência, essas lesões não apresentam potencial de malignização.
Leitura Complementra:
1- Betz SJ. HPV-related papillary lesions of the oral mucosa: A review. Head and Neck Pathol 2019;13:80-90.
2- Conde-Ferráez L & González-Losa M. Multifocal epitelial hyperplasia: an understudied infectious disease affecting ethnic groups. A mini review. Front cell Infec Microbiol 2024;14.
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