O eritema migratório benigno, também conhecido como língua geográfica, é uma condição imunomediada de etiologia desconhecida. O termo, língua geográfica, embora bastante utilizado, não é o mais adequado; porque a doença não afeta somente a língua, mas também outras áreas.

Sua prevalência está entre 1 e 2,5% da população. Outro dado curioso é que essa doença ocorre, preferencialmente, em indivíduos com psoríase de pele. Entretanto, não sabemos os mecanismos relacionados a essa possível associação.

 

Características clínicas

O eritema migratório benigno se manifesta, principalmente, em crianças ou adultos jovens. A doença afeta cerca de dois terços anteriores da língua. As lesões, geralmente, são múltiplas, caracterizadas por áreas eritematosas centrais, com atrofia das papilas, circundadas, parcialmente, por áreas hipertróficas, de coloração branca, que seguem trajeto sinuoso, circinado ou serpentiforme (Figura 1). Elas começam apresentando uma área branca; em seguida, surgem às áreas atróficas eritematosas, que crescem, centrifugamente, na direção do halo hipertrófico. Logo a seguir, elas regridem; mas, podem reaparecem, posteriormente, em outras áreas, com periodicidade variável. Esse comportamento “migratório” das lesões é o que justifica o nome dado popularmente à doença. Além disso, vale destacar que o desenho que se assemelha a um mapa, das áreas eritematosas, lembrando o formato dos continentes do globo terrestre, é o que dá origem à terminologia “língua geográfica”, comumente adotada.

Alguns pacientes relatam queixa de ardência; já outros, apresentam também língua fissurada. Como já mencionado, outros sítios podem ser afetados, tais como: a mucosa jugal, labial, palato mole e assoalho bucal.

 

Imagem clínica do eritema migratório benigno

 

Figura 1- Lesões eritematosas contornadas por áreas brancas circinadas, bem características do eritema migratório benigno.

Imagem clínica do eritema migratório benigno

 

Figura 2- Em algumas situações, as lesões do eritema migratório benigno podem envolver outras regiões da mucosa bucal.

 

Características histopatológicas

Como o diagnóstico de eritema migratório benigno é clínico, geralmente, a biópsia não é necessária. Quando realizada, o quadro microscópico será de uma mucosite psoriasiforme. Essa denominação é justificada pela semelhança com o que é observado na psoríase.

No exame microscópico, encontraremos epitélio paraqueratinizado, com cristas alongadas, contendo espongiose e exocitose, com formação de microabscessos (abscessos de Munro) no seu interior. Esses microabscessos são encontrados, com mais frequência, na periferia das lesões. Eles correspondem às áreas clinicamente branco-amareladas, circinadas, que circundam as regiões eritematosas das lesões. O processo inflamatório no epitélio leva à sua destruição e atrofia, sendo responsável pela formação das áreas eritematosas atróficas. Por último, a lâmina própria apresenta também infiltrado inflamatório variável e misto.

 

Tratamento

Nenhum tratamento é indicado para os casos de eritema migratório benigno. Geralmente,  o paciente é apenas orientado sobre a doença. Para os relatos em que há queixa de ardência, em razão da atrofia do epitélio causada pelo processo inflamatório, recomenda-se o uso de corticoide tópico para o alívio da sintomatologia.

 

Leitura complementar:

1- Miloglu O, Goregen M, Akgul HM, Acemoglu H. The prevalence and risk factors associated with benign migratory glossitis lesions in 7619 Turkish dental outpatients. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2009;107:e29-33.

2- McNamara K, Kalmar J. Erythematous and vascular oral mucosal lesions: A clinicopathologic review of red entities. Hed Neck Pathol 2019;13:4-15.

3- Neville BW, Damm DD, Allen CM, Chi AC. Oral and Maxillofacial Pathology. Elsevier, St. Louis, 4ed, 2015.

4- Picciani BL, Domingos TA, Teixeira-Souza T, Santos VC, Gonzaga HF, Cardoso-Oliveira J, et al. Geographic tongue and psoriasis: clinical, histopathological, immunohistochemical and genetic correlation—a literature review. An Bras Dermatol. 2016;91:410–421.-

5- Shulman JD, Carpenter WM. Prevalence and risk factors associated with geographic tongue among US adults. Oral Dis. 2006;12:381–386.

 

 

 

Consultório

blank

Conheça nossos cursos

blank