O cisto odontogênico glandular é um cisto de desenvolvimento raro e representa aproximadamente 0,4% dos cistos de origem odontogênica. Ele surge frequentemente na região anterior da mandíbula de indivíduos entre a quinta e sexta décadas de vida. Em geral, não apresenta sintomatologia dolorosa, mas é comum exibir comportamento biológico agressivo. Clinicamente, o aumento de volume de consistência endurecida pode ser observado. Radiograficamente, a lesão é radiolúcida, podendo ser uni ou multilocular, associada às raízes de dentes erupcionados, que geralmente cruza a linha média e acomete frequentemente duas hemiarcadas mandibulares (Figura 1). Além disso, o deslocamento dentário, a reabsorção radicular, a expansão e a ruptura da cortical óssea subjacente são achados imaginológicos importantes.
Figura 1- Radiografia panorâmica mostrando lesão multilocular, radiolúcida e com limites bem definidos.
Características histopatológicas
O diagnóstico histopatológico desse tipo cístico é desafiador, uma vez que ele pode apresentar sobreposições com diversos outros cistos e tumores odontogênicos (ou não); tais como: os cistos radiculares, cistos dentígeros, cistos odontogênicos botrioides, cistos periodontais laterais, cistos ciliados cirúrgicos e o carcinoma mucoepidermoide. O cisto odontogênico glandular apresenta revestimento epitelial de espessura variável, contendo em algumas áreas formação de placas ou redemoinhos, de maneira similar ao cisto periodontal lateral. Células colunares baixas (“hobnail cells”) são encontradas em praticamente todos os casos. Outros aspectos importantes são os microcistos intraepiteliais, projeções papilares, células claras, metaplasia apócrina, células mucosas e ciliadas. Embora nem todos esses achados sejam encontrados em alguns casos, a presença de um maior número deles permite maior segurança para o diagnóstico.
Figura 2- Exame microscópico do cisto odontogênico glandular. Notar espessamentos focais no epitélio, formando redemoinhos (figuras acima). Nas figuras abaixo observe células mucosas a esquerda e formações de estruturas ductiformes, além de células em hobnail no lúmen cístico na imagem da direita.
Tratamento
Aproximadamente, 20% dos casos de cisto odontogênico glandular apresentam comportamento recidivante, por isso, a enucleação deve ser acompanhada por terapias coadjuvantes, tais como: a ostectomia periférica, a cauterização química e/ou a crioterapia. Embora raro, o surgimento de um carcinoma mucoepidermoide, a partir de um cisto odontogênico glandular, já foi reportado. Dessa forma, o acompanhamento pós-operatório durante longo período é recomendado para o diagnóstico precoce de lesões recidivantes e/ou malignidades.
Leitura Complementar
2- Fowler CB, Brannon RB, Kessler HP, Castle JT, Kahn MA: Glandular Odontogenic Cyst: Analysis of 46 Cases with Special Emphasis on Microscopic Criteria for Diagnosis. Head Neck Pathol 2011;5:364.
3- Martins-Chaves RR, Granucci M, Gomez RS, Henriques de Castro W. Glandular Odontogenic Cyst-A Case Series. J Oral Maxillofac Surg. 2021;79:1062-68.
4- Reddy R, Islam MN, Bhattacharyya I, Cohen DM, Fitzpatrick SG, Ganatra S: The reliability of MAML2 gene rearrangement in discriminating between histologically similar glandular odontogenic cysts and intraosseous mucoepidermoid carcinomas. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol 2019;127:e136.
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