O carcinoma secretor é uma neoplasia incomum das glândulas salivares que foi descrito pela primeira vez, em 2010, por Skálova e colaboradores, recebendo inicialmente a denominação de carcinoma análogo ao secretor de mama. A maioria dos casos foi classificada, no passado, como carcinoma de células acinares.

O carcinoma secretor é causado por uma fusão envolvendo o gene ETV6 com os genes NTRK3, RET e MET. Essa translocação é encontrada também em outros tumores humanos (Confira o painel de marcadores moleculares para o diagnóstico de neoplasias de glândula salivar).

Aproximadamente ¾ dos casos envolvem as glândulas parótidas. Na cavidade oral, as lesões são encontradas principalmente no lábio, especialmente superior, palato mole e mucosa jugal. Embora o tumor seja de crescimento lento, há casos de transformação para alto grau de malignidade. As lesões afetam desde crianças a pacientes idosos.

 

Características histopatológicas

Microscopicamente, o carcinoma secretor mostra arranjo lobular separado por septos fibrosos, exibindo padrão sólido/microcístico, macrocístico, tubular ou papilar (Figura 1). Nas lesões microcísticas e tubulares, encontramos material eosinofílico homogêneo, PAS-positivo com e sem digestão e com aparência “borbulhante”. As células do tumor mostram núcleos vesiculares, redondos ou ovais, com cromatina dispersa e nucléolos centrais (Figura 2). O citoplasma é eosinofílico, pálido, granular e não exibe grânulos de zimogênio, característica do carcinoma de células acinares, que permite o diagnóstico diferencial. Apesar de circunscrito, o tumor não é encapsulado e invade o parênquima das glândulas salivares associadas. Além da fusão dos genes ETV6/NTRK3-RET-MET, o tumor exibe positividade imunohistoquímica para CK7, CK8, CK18, CK19, SOX10, S100, vimentina, mamoblobina e negatividade para p63, DOG1 e p40. Marcação nuclear para TRK é encontrada nos casos positivos para a fusão ETV6::NTRK3.

 

 

Imagem microscópica do carcinoma secretor

 

Imagem microscópica do carcinoma secretor

 

Figuras  1 e 2- Aspecto microscópico em menor aumento do carcinoma secretor mostrando arquitetura lobular. As células do tumor exibem citoplasma eosinofílico, granular e núcleos ovoides, com cromatina dispersa e nucléolo central. Observar no interior dos espaços cístico a presença de material homogêneo  e de aparência “borbulhante”.

 

Tratamento

O tratamento do carcinoma secretor é cirúrgico e o tumor apresenta baixo grau de malignidade. Metástases regionais são encontradas em cerca de 25% dos casos. Metástases distantes são raramente observadas. Drogas inibidoras de NTRK, um dos genes envolvidos na translocação gênica, apresentam grande potencial terapêutico e resultados promissores foram encontrados em ensaios clínicos com essas drogas em pequenos grupos de pacientes com o tumor. Transformação para alto grau de malignidade pode ocorrer, o que leva a um pior prognóstico.

 

Leitura complementar:

1- Skálova A, Hyrcaz M, Vanececk T, Banecková M. Fusion-positive salivary gland carcinomas. Gen Chrom Cancer 2022;61:228-243.

2-Skálová A, Vanecek T, Majewska H, et al. Mammary analogue secretory carcinoma of salivary glands with high-grade transformation: report of 3 cases with the ETV6-NTRK3 gene fusion and analysis of TP53, β-catenin, EGFR, and CCND1 genes. Am J Surg Pathol. 2014;38:23-33.

3- Skálová A, Vanecek T, Sima R, et al. Mammary analogue secretory carcinoma of salivary glands, containing the ETV6-NTRK3 fusion gene: a hitherto undescribed salivary gland tumor entity. Am J Surg Pathol. 2010;34:599-608.

4- Venkat S, Fitzpatrick S, Drew PA, Bhattacharyya I, Cohen DM, Islam MN. Secretory carcinoma of the oral cavity: a retrospective case series with review of the literature. Head Neck Pathol 2021;15:893-903.

 

 

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