Descrito em 1948, por Ackerman, o carcinoma verrucoso é uma variante de baixo grau de malignidade do carcinoma de células escamosas. A boca é o principal sítio afetado, embora possa ocorrer na laringe, esôfago, cavidade nasal, seios paranasais, genitália e pele. Essa lesão representa aproximadamente 1% de todos os carcinomas primários de boca.

Etiologia

O uso de tabaco é o principal fator etiológico da doença, cujo hábito de mascá-lo tem associação significativa com o desenvolvimento do tumor. Isso é evidenciado pela presença frequente da lesão nos locais onde o tabaco é colocado. Em alguns casos, observa-se que há infecção pelo vírus HPV (HPV 6, 11, 16 e 18), embora não podemos descartar a possibilidade desse achado ser apenas acidental.

Características clínicas

O carcinoma verrucoso ocorre principalmente em homens acima da sexta década de vida. Entretanto, pode ser encontrado em mulheres, em razão do hábito de mascar tabaco nesse grupo em algumas regiões rurais. A lesão apresenta crescimento lento, sendo encontrada preferencialmente na mucosa jugal, vestíbulo e rebordo alveolar. Ela é geralmente exofítica, verrucosa e com a superfície papilar (Figura 1). Embora a coloração branca seja destacada, há áreas eritemtosas. Ela pode causar destruição de osso, sem invasão dos espaços medulares. Além disso, pode originar-se a partir da leucoplasia verrucosa proliferativa, leucoplasia, eritroleucoplasia ou fibrose submucosa.

 

Aspecto clínico do carcinoma verrucoso

Figura 1- Aspecto clínico do carcinoma verrucoso mostrando lesão exofítica, com aparência verrucosa e superfície papilar.

 

Características histopatológicas

Geralmente, no exame microscópico serão observadas cristas epiteliais largas, que parecem “empurrar” o tecido conjuntivo subjacente, abundante produção de queratina e a ausência de displasia epitelial (Figura 2). O quadro microscópico pode ser semelhante ao de uma leucoplasia exibindo hiperplasia verrucosa. O envolvimento da lâmina própria subjacente no carcinoma verrucoso é o principal elemento para o diagnóstico diferencial, nesses casos. Como o carcinoma de células escamosas convencional pode originar-se do carcinoma verrucoso, é necessário analisar cuidadosamente toda a peça cirúrgica para o diagnóstico diferencial.

 

Aspecto microscópico do carcinoma verrucoso

 

Figura 2- Cristais epiteliais largas e provocando efeito de “empurramento” da lâmina própria no carcinoma verrucoso.

 

Tratamento

O carcinoma verrucoso raramente provoca metástases locais ou à distância. O tratamento envolve excisão cirúrgica com margens adequadas. Os linfonodos podem estar eventualmente aumentados, mas são geralmente reacionais e não devido à metástase. Entretanto, a ressecção de linfonodos regionais poderá ser necessária quando houver dúvida sobre o diagnóstico diferencial com o carcinoma de células escamosas convencional ou evidência de lesão metastática nodal. Vale ressaltar que o carcinoma verrucoso pode recorrer e sofrer dediferenciação para o carcinoma de células escamosas convencional. Embora a cirurgia seja o tratamento de primeira escolha, a radioterapia pode ser necessária em pacientes com tumores extensos ou com comorbidades que dificultem procedimentos cirúrgicos amplos. Após o tratamento, o risco de transformação para carcinoma invasivo é menor do que se imaginava no passado.

O prognóstico do carcinoma verrucoso é bom, apesar do alto índice de recorrência, variando de 10 a 50%. O índice de sobrevida após cirurgia, mesmo com recorrência, é alto.

 

Leitura Complementar:

1- Candau-Alvarez A, Dean-Ferrer A, Alamillos-Granados FJ, et al. Verrucous carcinoma of the oral mucosa: an epidemiological and follow-up study of patients treated with surgery in 5 last years. Med Oral Patol Oral Cir Bucal 2014; 19:e506–11.

2- Rodrigues-Fernandes CI, Arboleda LPA, Vargas PA, Lopes MA, Santos-Silva AR. Oral verrucous carcinoma manifesting as proliferative verrucous leukoplakia. Oral Oncol 2021; 116:2020-2022.

3-  Walvekar RR, Chaukar DA, Deshpande MS, et al. Verrucous carcinoma of the oral cavity: A clinical and pathological study of 101 cases. Oral Oncology 2009; 45:47-51.

 

 

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