Profa. Carolina Cavaliéri Gomes e-mail: carolinacgomes@ufmg.br
Dr. Fabrício Tinôco Alvim de Souza
Prof. Ricardo Santiago Gomez
Os telefones celulares emitem sinais via ondas de rádio que são compostos de energia de radiofreqüência (RF), uma forma de radiação eletromagnética. Todos os telefones celulares emitem certa quantidade de radiação eletromagnética. Dada a proximidade entre o fone e a cabeça, é possível que a radiação cause algum tipo de dano aos usuários.
Atualmente, estima-se que6 bilhões de pessoas possuam telefone celular próprio. O que está sendo discutido no cenário científico é exatamente a quantidade de radiação que é considerada nociva e se há algum efeito potencial a longo prazo causado pela exposição à radiação dos telefones celulares.Tanto a energia de radiofrequência quanto a luz visível e a radiação de microondas são consideradas não ionizantes. A radiação não ionizante é considerada segura. Ela causa um efeito de aquecimento, mas acredita-se que não seja o suficiente para resultar em algum dano ao tecido (inclusive as evidências indicam que elas não seriam capazes de provocar mutações no DNA).
A radiação pode danificar o tecido humano se este for exposto a níveis elevados de radiação RF (radiofreqüência). A radiação RF tem a capacidade de aquecer o tecido humano do mesmo modo que os fornos microondas aquecem os alimentos. O dano ao tecido pode ser causado pela exposição à radiação RF porque nosso corpo não está preparado para dissipar quantidades excessivas de calor. Durante o uso do aparelho celular, o contato deste aparelho com o corpo humano se dá sobretudo com a região pré-auricular, aonde se localiza a glândula salivar parótida. Assim, a maior preocupação em relação ao desenvolvimento de tumores seria com os tumores cerebrais (gliomas, meningiomas, neuroma acústicos, etc) e com tumores de glândulas parótidas.
Quando se trata da associação entre o uso de telefone celular como causa de neoplasias, o assunto é bastante controverso. Há dados sugerindo que o uso de celulares aparentemente não aumentou a incidência de neoplasias na população estudada (SHUTZ et al.,2006).
Um estudo recente demonstrou que há um aumento no fluxo salivar e diminuição da secreção de proteínas na glândula parótida adjacente ao uso do aparelho de telefone celular (GOLDWEIN, AFRAMIAN, 2010). Outro estudo anterior (SADETZKI et al.,2008) encontrou associação entre o uso de telefones celulares e o desenvolvimento de tumores benignos de glândulas parótidas, enquanto que um estudo a ser publicado em 2012 (Söderqvist et al.,2012) não encontrou associação entre o uso de celular e o desenvolvimento de tumores de parótida.
No entanto, vale ressaltar que estudos (incluindo estudos multicêntricos) que investigaram a associação entre o uso do telefone celular e o desenvolvimento de tumores como glioma e meningiomas não demonstraram tal associação (SPINELLI et al.,2010, INTERPHONE Study Group, 2010).
Para finalizar, o grupo representante da Organização mundial de Saúde (WHO) e da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) divulgou oficialmente em 31 de maio/2011 que acredita que o uso de aparelhos celulares é “possivelmente carcinogênico”, baseando-se na maior frequência de gliomas em indivíduos usuários de telefone celulares. Esta conclusão indica que pode haver algum risco e que devemos observar mais atentamente a associação ente o uso dos aparelhos celulares e o risco de desenvolvimento de câncer.
Enquanto um consenso não é alcançado, o que devemos fazer?
• A maior preocupação ainda é com o uso de celulares por crianças, uma vez que a dose cumulativa de radiação nelas poderia ultrapassar muito a dose cumulativa dos adultos de hoje. Além disto, já foi demonstrado que há uma deposição de radiação de RF muito maior no cérebro e na medula óssea dos ossos do crânio de crianças que fazem o uso do aparelho celular do que em adultos.
• Aparentemente, os efeitos da radiação seriam maiores quanto mais próximo do corpo o aparelho celular for utilizado. Assim, recomenda-se (ainda que preventivamente) a utilização de fones de ouvido e o uso de aparelhos celulares em ambientes abertos.
Leitura complementar:
1- https://www.iarc.fr/en/media-centre/pr/2011/pdfs/pr208_E.pdf
2- Munshi A. Cellular phones: To talk or not to talk. J Can Res Ther 2011;7:476-7
3- Dreyfuss JH. Mixed results on link between cellular telephones and cancer. CA Cancer J Clin 2010;60:5-6.
4- INTERPHONE Study Group.Brain tumour risk in relation to mobile telephone use: results of the INTERPHONE international case-control study. Int J Epidemiol 2010;39:675-94
5- Christ A, Grosselin MC, Chrisopoulou M, Kuhn S, Kuster N. Age-dependent tissue-specific exposure of cell phone users. Phys Med Biol 2010;55; 1767-83.
6- Baan R, Grosse Y, Lauby-Secretan B, El Ghissassi F, Bouvard V, Benbrahim-Tallaa L, Guha N, Islami F, Galichet L, Straif K; WHO International Agency for Research on Cancer Monograph Working Group.Carcinogenicity of radiofrequency electromagnetic fields. Lancet Oncol. 2011 Jul;12(7):624-6.