A pioestomatite vegetante é uma desordem rara da cavidade associada à doença inflamatória intestinal, que foi descrita, pela primeira vez, em 1898, por Hallopeu, mas a terminologia foi introduzido por McCarthy, em 1949. Essa doença é considerada uma contraparte oral do pioderma vegetante.

 

Características clínicas

Em geral, a pioestomatite vegetante é mais encontrada em homens, afeta ampla faixa etária, com maior predomínio em jovens ou adultos de meia idade. Clinicamente, as lesões se apresentam como pústulas em placas ou lineares, branco-amareladas, com uma base eritematosa, dispostas em forma serpentiforme, conhecida como “trilha de caramujo” (Figura 1). As áreas mais afetadas são a mucosa labial e jugal. Entretanto, o palato (duro e mole), bem como a língua, vermelhão do lábio e assoalho bucal são outras áreas que podem ser comprometidas. Essas lesões podem ser dolorosas. A mucosa vaginal e nasal são outras mucosas que podem ser afetadas. No exame do hemograma, eosinofilia é encontrada em 60% dos casos.

As lesões de pele, piodermatite vegetange, são encontradas na metade dos casos e podem preceder as lesões orais. Elas se apresentam como vesículas, pústulas, placas vegetantes, envolvendo o couro cabeludo, a face, a axila e a região genital.

Como em 40% dos casos o paciente não tem o diagnóstico prévio de doença inflamatória intestinal, a sua investigação é de fundamental importância, quando há presença das lesões clínicas. Sintomas gastrointestinais estão presentes em ¾ dos casos, no momento do diagnóstico da doença. As principais doenças intestinais associadas a pioestomatite vegetante são: a doença de Crohn e a colite ulcerativa. Relatos de anormalidades hepáticas são também descritos. Na doença de Crohn, além da pioestomatite vegetante, o paciente pode apresentar também outros achados orais, tais como: tumefação dos lábios; formações ou tumefações nodulares e difusas, cercadas por fissuras, produzindo o aspecto de “calçada portuguesa”; úlceras lineares no vestíbulo, cercadas por áreas de espessamento da mucosa; gengiva edematosa, inflamada, granular e hiperplásica. Por outro lado, na colite ulcerativa, outros achados orais inespecíficos podem ocorrer, dentre os quais incluem: queilite angular, eritema perioral com descamação, linfadenopatia submandibular, hipossalivação, halitose, candidíase, disfagia, crescimento das glândulas salivares, glossite, disgeusia metálica e cárie. A pioestomatite é mais comum na colite ulcerativa.

 

Imagem clínica da pioestomatite vegetante

 

Figura 1 – Múltiplas pústulas dispostas em placas ou lineares, branco-amareladas, em formato serpentiforme, conhecido como “trilha de caramujo”. Posteriormente, o paciente foi diagnosticado com colite ulcerativa (Imagem gentilmente cedida pelo Prof. Hélder Pontes – UFPA).

 

Características histopatológicas

No exame histopatológico, encontraremos fendas intra ou subepiteliais, contendo eosinófilos, formando microabscessos eosinofílicos (Figura 2). Esse mesmo achado é pode ser visto no pênfigo vegetante. Embora, no exame de imunofluorescência direta, deposição de IgG, seja encontrada no pênfigo vegetante, resultado semelhante é, eventualmente, identificado na pioestomatite vegetante.

 

Imagem microscópica da pioestomatite vegetante

Imagem microscópica da pioestomatite vegetante

 

Figuras 2 e 3 – Imagem microscópica mostrando fendas intra e subepitelial. Em maior aumento, notamos coleções de eosinófilos e neutrófilos no interior das fendas.

 

Tratamento

O tratamento da doença inflamatória intestinal é feito com corticoide, associado ao uso de outras drogas imunossupressoras. Geralmente, esse método é efetivo para a regressão das lesões orais, mas pode ocorrer recidiva quando há redução ou suspensão dessa medicação.

 

Leitura Complementar:

1- Gheisari M, Zerehpoosh FB, Zaresharifi S. Pyodermatitis-pyostomatitis vegetans: a case report and review of literature. Dermatol Online J. 2020;26:13030/qt5871q750.

2- Hallopeau H. “Pyodermite vegetante,” ihre Beziehungen zur Dermatitis herpetiformis und dem Pemphigus vegetans. Arch Dermatol Syph. 1898;43:289-306.

3- Hallopeau H. Zweite Mittheilung über “Pyodermite végétante”. Suppurative Form der Neumann’schen Krankheit. Arch Dermatol Syph. 1898;45:323-328.

4- Hegarty AM, Barrett AW, Scully C. Pyostomatitis vegetans. Clin Exp Dermatol 2004;29:1-7

5- Kelner N, Rabelo GD, da Cruz Perez DE, Assunção JN Jr, Witzel AL, Migliari DA, Alves FA. Analysis of nonspecific oral mucosal and dermal lesions suggestive of syphilis: a report of 6 cases. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol. 2014;117:1-7.

6- McCarthy FP. Pyostomatitis vegetans; report of three cases. Arch Derm Syphilol. 1949;60:750-64.

7-  Nico MM, Hussein TP, Aoki V, Lourenço SV. Pyostomatitis vegetans and its relation to inflammatory bowel disease, pyoderma gangrenosum, pyodermatitis vegetans, and pemphigus. J Oral Pathol Med 2012;41:584-8.

 

 

Consultório

blank

Conheça nossos cursos

blank