O tumor odontogênico escamoso é um tumor odontogênico epitelial benigno raro, que afeta frequentemente os ossos maxilares. Ele foi descrito, pela primeira vez, por Pullon e colaboradores, em 1975. Desde então, pouco mais de 100 casos já foram reportados na literatura. De etiologia desconhecida, o tumor parece ter origem a partir dos remanescentes epiteliais de Malassez. A localização periradicular reforça essa teoria. Entretanto, alguns autores não descartam a hipótese de que os remanescentes epiteliais da lâmina dentária sejam a origem embrionária para a lesão.
Características clínicas
Clinicamente, o tumor odontogênico escamoso afeta diversas faixas etárias, principalmente pacientes da terceira década de vida. Com predileção para a região anterior da maxila e posterior da mandíbula, ele pode causar aumento de volume na área afetada e deslocamento de dentes. Além disso, existem registros de casos familiais, lesões múltiplas, especialmente em crianças; bem como raros relatos de tumores periféricos.
Características radiológicas
Em radiografias, o tumor odontogênico escamoso se mostra radiolúcido, geralmente unilocular ou não loculado, com limites bem (ou mal) definidos. Como ele se localiza entre dois dentes, pode causar divergências das suas raízes (Figura 1). A imagem radiolúcida pode exibir morfologia triangular ou semilunar. A reabsorção de raízes dentárias é eventualmente observada. Nos casos mais agressivos, as lesões podem ser multiloculares e causar destruição das corticais óssea.
Figura 1- Tumor odontogênico escamoso com localização periradicular.
Características histopatológicas
Em relação aos aspectos microscópicos, o tumor odontogênico escamoso mostra lençóis de epitélio escamoso bem diferenciado, que são sustentados por um estroma fibroso celularizado (Figura 2). As células epiteliais da periferia dos lençóis se apresentam achatadas ou cuboides (Figura 3). Elas não exibem morfologia colunar, basaloide, semelhante às células ameloblásticas, comumente encontradas no ameloblastoma. Essa característica morfológica é essencial para que se faça o diagnóstico diferencial com o ameloblastoma. Além disso, degeneração cística, queratinização intracelular, metaplasia mucosa, células fantasmas e calcificações podem ser focalmente observadas nesse tipo de tumor, embora não sejam predominantes (Figuras 3 e 4). Existem relatos de ameloblastoma desmoplásico que foram equivocadamente reportados como tumor odontogênico escamoso. Para o diagnóstico diferencial dessas lesões, é necessário observar que o tumor odontogênico escamoso não exibe ilhas e lençóis com aparência “esmagada” pelo estroma, aspecto característico do ameloblastoma desmoplásico. De igual modo, o diagnóstico diferencial com o carcinoma de células escamosas também é relevante, mas as alterações displásicas, encontradas nesse último, ajudam nessa diferenciação. Cabe ressaltar, ainda, que as proliferações semelhantes ao tumor odontogênico escamoso são eventualmente encontradas na cápsula de cistos odontogênicos. Esses casos devem ser diferenciados do tumor odontogênico escamoso e o seu comportamento é similar ao da lesão cística primária.
Figura 2- Lençóis de epitélio escamoso bem diferenciado, sustentados por um estroma fibroso celularizado.
Figura 3- No tumor odontogênico escamosos as células epiteliais da periferia dos lençóis se apresentam achatadas ou cuboides. Ocasionais células queratinizadas são encontrados no interior das estruturas epitelais.
Figura 4- No interior dos lençois de células epiteliais podemos observar mineralizações distróficas.
Tratamento
Os tumores devem ser tratados de forma conservadora, o que inclui curetagem ou a enucleação total com ostectomia periférica. A extração dos dentes adjacentes ao tumor é frequentemente realizada. Casos mais agressivos podem exigir ressecção marginal.
Leitura Complementar
3- Upadhyaya JD, Banasser A, Cohen DM, Kashtwari D, Bhattacharyya I, Islam MN. Squamous Odontogenic Tumor: Review of the Literature and Report of a New Case. J Oral Maxillofac Surg 2021;79:164-176.
4- Wright JM Jr. Squamous odontogenic tumorlike proliferations in odontogenic cysts. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1979;47:354-358.
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