A afta oral, estomatite aftosa recorrente ou úlcera aftosa, é a lesão ulcerada mais comum da cavidade bucal. A doença atinge 40% da população e diversos fatores etiológicos são apontados como possíveis causas. A doença é resultado de um desequilíbrio imunológico, agravado por estresse, fatores genéticos ou variações hormonais, embora os mecanismos relacionados a esses fatores não sejam conhecidos. O estímulo inicial para o surgimento das lesões pode ser um antígeno endógeno (autoimune) ou externo. Hipersensibilidade a alguns alimentos justifica a investigação do padrão alimentar do paciente, muitas vezes, com o auxílio de um profissional especializado. Uma população pequena de pacientes com afta pode também apresentar doenças inflamatórias intestinais, como a doença de Crohn ou a enteropatia ao glúten. Alguns indivíduos apresentam deficiência de vitamina B12, ferro ou ácido fólico. Nesses grupos, a reposição do nutriente ou o tratamento da condição principal pode ajudar no controle da manifestação da doença. Pacientes HIV-positivos também são mais propensos a desenvolvê-la. História de lesões ulceradas na pele, genitália ou oculares devem ser avaliadas para afastar a possibilidade de ocorrer outras doenças sistêmicas, tais como: a doença de Behçet, neutropenia cíclica e a síndrome PFAPA (febre periódica, aftas orais, faringite e adenite cervical).

A manifestação clínica da afta ocorre pela presença de úlceras recorrentes, recobertas por uma membrana fibrinosa e cercadas por um halo eritematoso (Figura 1). As úlceras ocorrem principalmente na mucosa não queratinizada, como a mucosa jugal, labial,  alveolar, assoalho bucal e palato mole. A dor característica e intensa é patognomônica e está presente mesmo em lesões pequenas. Quando as lesões apresentam dimensão inferior a 0.5 cm, são denominadas de afta menor. As lesões podem ser múltiplas e se cicatrizam em 7-10 dias. Lesões maiores do que 1 cm tendem a ser solitárias e são chamadas de afta maior. Elas representam a expressão clínica mais severa da doença, atingem principalmente a mucosa móvel e apresentam maior tempo de evolução, podendo deixar cicatrizes. Essa forma clínica é também conhecida como afta de Sutton ou Periadenite de mucosa necrótica recorrente. A forma herpetiforme é caracterizada pelo conjunto de pequenas úlceras e, diferente do herpes simples, não tem relação causal com o vírus e não é precedida por vesícula. Como o diagnóstico da afta oral é clínico, a biópsia não é usualmente realizada e o quadro microscópico é inespecífico.

 

Imagem clínica da afta

Figura 1- Lesão ulcerada exibindo halo eritematoso.

 

Tratamento

O tratamento da afta exige grande dedicação do profissional e do paciente. Como fatores relacionados à dieta podem estar envolvidos, uma rigorosa avaliação é necessária para a possível identificação do fator alergênico ou de deficiências nutricionais. A investigação da dosagem sérica de ferro, ácido fólico e de vitamina B12 pode ser útil em alguns casos. De todo modo, a investigação desses fatores deve ser realizada principalmente nos casos mais severos. O profissional também deve estar atento para o relato de manifestações de doença inflamatória intestinal. A interconsulta com um gastroenterologista pode ser necessária. Uso tópico de corticoide também pode ser útil, apesar de ser pouco eficaz na prevenção da doença. Alimentos ácidos podem aumentar o número de lesões, mas isso não se deve a uma reação de hipersensibilidade. Ele é explicado mais pela sua ação irritativa de uma mucosa susceptível à doença. A queratinização da mucosa pelo fumo explica a menor incidência da doença em fumantes. Por fim, em alguns casos não conseguimos identificar o fator causal, mas a doença deixa de ser severa – o que pode ser associado com mudanças hormonais.

 

Leitura complementar:

1- Hargitai I. Painful oral lesions. Dent Clin North Am 2018;62:597-609.

2- Fitzpatrick SG, Cohen DM, Clark AN. Ulcerated lesions of the oral mucosa: Clinical and histologic review. Head Neck Pathol 2019; 13:91-102.

 

 

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